I Simpósio sobre Vulnerabilidade e Saúde
04/11/2016
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A fragilidade cotidiana de moradores de rua, comunidades quilombolas, mulheres em situação de prisão, profissionais do sexo e pessoas com DSTs foi discutida durante o I Simpósio sobre Vulnerabilidade e Saúde. O evento, que aconteceu na última sexta-feira, de 4 novembro, foi realizado na Unidade Acadêmica Cabula da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Iniciativa do Núcleo de Pesquisa Interfaces em Saúde (NUPEIS), vinculado aos Programas de Graduação e de Pós-Graduação dos cursos de saúde da Bahiana, o simpósio também abriu espaço para discutir questões de cor e de gênero.
Estiveram presentes, representando a coordenação do curso de Enfermagem da Bahiana, a Prof.ª Robélia Dorea, além de profissionais de saúde, acadêmicos da Bahiana e de outras faculdades.
O coral do Presídio Feminino Lemos de Brito apresentou-se na abertura do evento. Em seguida, a primeira mesa teve início. O tema foi a vulnerabilidade de mulheres em situação de prisão e também de parteiras, outras integrantes de comunidades quilombolas e profissionais do sexo.
A coordenadora do simpósio, Prof.ª Tânia Bispo, ressaltou que a programação tratou de um tema relevante, de importância pública, e uma atividade como essa ao ser debatida em uma escola de saúde amplia o conhecimento de professores e alunos.
“Podemos discutir com equipes multiprofissionais o que iremos fazer com as pessoas em situação de vulnerabilidade, a fim de minimizar os transtornos para a saúde desses indivíduos”, destacou.
Para a Prof.ª Tânia Bispo, é importante para a Bahiana, uma instituição de saúde e formadora de opinião, estar inserida nesse contexto, para ampliar o olhar dos acadêmicos e profissionais para um atendimento mais humanizado.
Ambiente prisional
Segundo Luz Marina Ferreira da Silva, diretora do Complexo Penitenciário da Mata Escura, que ministrou uma palestra sobre vulnerabilidade de mulheres em situação de prisão, o simpósio é de extrema importância para a população carcerária, dada a fragilidade dentro do ambiente prisional.
“Quando uma mulher é presa, ela deixa uma família para trás. Ela, provavelmente, não teve uma referência familiar sólida, viveu uma experiência de rua e, então, por todos os tipos de vulnerabilidade, essa mulher sofreu e continua sofrendo encarcerada”, observou Luz Marina.
A diretora acredita que ações afirmativas e simpósios como esse são uma tentativa de minimizar o sofrimento dessas mulheres e promover sua reinserção social.
Para Geisa Copello, psicóloga do Conjunto Penal Feminino de Salvador, o simpósio conseguiu dar visibilidade a indivíduos que constantemente vivenciam situações de fragilidade. “Precisamos de eventos que toquem nessa temática, pois muitas dessas pessoas estão praticamente invisíveis para a sociedade”.
A psicóloga pontuou que, no caso das mulheres encarceradas, a vulnerabilidade é ainda maior, já que esse ambiente foi planejado, originalmente, para os homens e ao qual as mulheres acabaram tendo que se adaptar.
Quilombolas
A enfermeira e professora do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Mary Galvão, explicou que a maior vulnerabilidade de parteiras quilombolas é a invisibilidade e o silêncio até mesmo do Estado, que as ignora. “O maior problema das populações quilombolas, indígenas e de outros segmentos que o Estado insiste em marginalizar é o fato de não terem garantidos o que está previsto na legislação”, avaliou.
Para ela, levar esse debate para o ambiente acadêmico é abrir uma discussão ampla, para informar professores, alunos e profissionais de saúde sobre a questão da vulnerabilidade.
Sara Moreira, enfermeira graduada pela UNEB e integrante do NUPEIS enfatizou a importância de essas pessoas serem assistidas. “Trazemos esses grupos vulneráveis, muitos também atingidos pelo preconceito, justamente para dar uma melhor assistência e auxiliar na qualidade de vida dessas comunidades marginalizadas pela sociedade”.
A aluna da UNEB Sara Maria, do 6° semestre de enfermagem, contou que o evento é de extrema importância para o seu curso. “Fiquei sabendo do simpósio e me inscrevi, pois me interesso por essas questões de vulnerabilidade e conhecer um pouco mais de cada comunidade nas palestras é enriquecedor”.
João Batista, 34 anos, portador de osteogênese imperfeita (doença que afeta os ossos) participou do evento assistindo às palestras e relatou que o simpósio trouxe contribuições importantes para saúde da população. “A Bahiana tem iniciativas importantes e trazer as situações de vulnerabilidade de diferentes grupos é relevante para o conhecimento das pessoas”.