"Um Pouco de Cada Um" reúne exposição de talentos na Unidade Acadêmica Brotas
Grupos de idosos e de saúde mental resgatam a autoestima com atividades artísticas promovidas pelo SerTO.
10/11/2016
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Abatido por uma depressão após ser dispensado do emprego, no início do ano, João Marinho, 87 anos, reencontrou a autoestima e a vontade de viver após frequentar o grupo de idosos do Serviço de Terapia Ocupacional (SerTO) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Há dois meses, ele participa de encontros semanais com outros participantes e já retomou atividades antes esquecidas, como escrever poemas, tocar gaita e desenhar, atividade que praticou ao longo da vida como arquiteto.
Juntamente com outras dezenas de idosos e com integrantes do grupo de saúde mental do SerTO, João Marinho participou, na manhã de 9 de novembro, do Sarau e Exposição “Um Pouco de Cada um”, que aconteceu no pátio do Pavilhão de Aulas da Unidade Acadêmica Brotas. Recitou poemas e apresentou “pérolas” da MPB com seu conjunto de gaitas. Na ocasião, os demais integrantes dos grupos também recitaram poemas, cantaram músicas e puderam expor as peças de artesanato e de corte e costura produzidas ao longo das sessões terapêuticas.
Reescrevendo a vida
“Fui dispensado do trabalho e isso faz muita falta. Para recuperar isso, tenho que preencher o tempo com alguma coisa, então, a minha médica me recomendou essa terapia. Eu fico desejando que chegue logo a terça-feira para eu me encontrar com Ana Cláudia Braga (terapeuta ocupacional do SerTO). Na terça-feira, eu preencho um vazio muito grande na minha vida. A terapia está ressuscitando as coisas que eu escrevia”, desabafa João Marinho que estava acompanhado de sua filha, Berenice Conceição Ferreira Santos, e de três netos.
Berenice conta que seu pai sempre foi uma pessoa muito ativa e vê-lo com um princípio de depressão abalou toda a família. “Ele começou até a ter um princípio de demência o que me abalou muito. Confesso que, no início, tive resistência em aceitar o quadro, pois não somos preparados e não temos a cultura de aceitar o tratamento psicoterapêutico, pois o associamos a ‘médico de maluco’”. Mas, buscando informações sobre o quadro, ele chegou a uma geriatra que indicou o serviço terapêutico. Hoje, além de frequentar o grupo de terapia ocupacional, realiza sessões com psicólogo.
Segundo a coordenadora do SerTO, a terapeuta ocupacional Sofia Campos, “o nosso trabalho é voltado, principalmente, para a promoção da saúde das pessoas com o resgate das suas atividades diárias. São pessoas que, por algum motivo – pela doença ou pelo processo de envelhecimento – são acometidas de uma fragilização nos seus vínculos afetivos, familiares e de amizades, além da perda de algumas de suas atividades”. Ela destaca que, ao retomar essas atividades e esses laços de relações, as pessoas conseguem reorganizar suas vidas de forma autônoma e independente, refazendo o seu cotidiano, apesar de suas limitações e do seu adoecimento.
“A proposta da gente é que, nesses encontros, elas possam trocar conhecimentos com pessoas que estão em situação parecida com a delas e descubram suas habilidades por meio da ajuda mútua. Assim, eles vão resgatando habilidades esquecidas e reaprendendo novas habilidades”, explica Sofia, apontando que o processo terapêutico por meio de atividades práticas os leva a expressar os sentimentos.