Simpósio Brasileiro de Saúde do Trabalhador
25/11/2017
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"Nós estamos sediando este evento com muita alegria, por vários motivos, principalmente por se tratar de um espaço de resistência. E é importante que estejamos juntos para discutir e defender a saúde do trabalhador que está sendo atacada de forma violenta. Temos que estar juntos para resistir a esses retrocessos que estamos vivendo". Com essas palavras, a reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Dra. Maria Luisa Carvalho Soliani abriu oficialmente o Simpósio Brasileiro de Saúde do Trabalhador que aconteceu nos dias 24 e 25 de novembro, na Unidade Acadêmica Cabula.
Além da reitora, integraram a mesa de abertura a coordenadora do curso de Enfermagem e da linha de pesquisa em Gestão do Trabalho (Gestra), Cristiane Magali Freitas dos Santos; representando a Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador (Divast), a enfermeira do trabalho Ely Mascarenhas, o diretor da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde/SESAB, Bruno Guimarães e a sócia-fundadora da Consat – Consultoria em Saúde do Trabalhador e ex-aluna do curso de Enfermagem da Bahiana, Ticiana Assemany.
Uma realização da Bahiana, Gestra e Consat, o simpósio contou com o patrocínio da CAPES, via edital público e reuniu associações representativas, profissionais de saúde e pesquisadores de todo o país para debater temáticas relacionadas à cidadania, direitos constitucionais, conjuntura nacional e seu impacto na saúde do trabalhador. Entre as pautas discutidas, foram enfocadas "A Política Nacional de Saúde do Trabalhador", "Formalidade, Informalidade e Terceirização", "Reforma Previdenciária e Trabalhista" e "Escuta ao Trabalhador".
Cristiane Magali destaca que o fato de o simpósio ter acontecido na Bahiana permite que a comunidade – docentes, pesquisadores, colaboradores – reflita sobre trabalho. "Isso é algo que precisa ser refletido nesse atual contexto sociopolítico e econômico que estamos atravessando. Pensando na formação de nossos graduandos e pós-graduandos, enquanto pessoas em formação, estamos despertando-os para estarem atentos a cuidar do outro, entendendo que esee outro é um cidadão, um ser com um agravo, mas é um trabalhador". Ela explica que, muitas vezes, o profissional de saúde não observa que uma determinada condição apresentada por um paciente pode ser um reflexo de sua relação de trabalho. "
O evento trouxe a Salvador importantes nomes na área da saúde do trabalhador, a exemplo de Carlos Minayo, doutor em Ciências pela Universidad de Salamanca e pesquisador da FIOCRUZ/RJ; Dra. Angélica de Mello Ferreira, juíza do Trabalho e presidente da Associação de Magistrados da Justiça do Trabalho; Heliete Karam; doutora em Psicologia Clínica pelo Consevatoire National des Arts et Mètiers de Paris e Paulo Pena, doutor em Socioeconomia do Desenvolvimento pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris.
Para Bruno Guimarães, entre os principais desafios atuais, estão aqueles no âmbito da perda dos direitos dos trabalhadores. "Com toda essa nova legislação, sobretudo a legislação trabalhista e a lei da terceirização, a gente coloca os trabalhadores sempre no lugar desfavorável, na relação entre gestores e empregados e isso faz com que, de fato, nessa luta que está relacionada a questões de poder, o trabalhador sempre acabará cedendo e perdendo". Ele aponta como consequências o adoecimento do trabalhador e a precarização das condições de trabalho. "Eu acho que a única saída é os trabalhadores lutarem, unirem-se para que essas garantias sociais que estão na Constituição, no SUS e na Política Nacional dos Trabalhadores, iniciativas em que a gente vem investindo há tantos anos, não passem por um retrocesso".
O segundo dia de simpósio teve como destaque a mesa-redonda "Trabalho, logo existo! Quando o trabalhador fala", quando serão discutidos os temas: "Quando as profissionais do sexo falam"; "Quando as parteiras falam"; "Quando os pescadores artesanais falam".
"Estamos vivendo uma grande reforma no processo de trabalho e isso está repercutindo na vida de muita gente e na saúde também. Muitas pessoas, por um lado, sentem-se beneficiadas, mas a massa que gera esse trabalho é prejudicada e isso vira com o tempo", declara Ticiana Assemany da Consat. Segundo ela, é necessário que outros encontros sejam realizados a fim de discutir essas temáticas. "É preciso trazer essa inquietação para que as pessoas parem de ficar reclamando apenas nas mídias sociais. É preciso que a gente se reúna e que faça atas e vá atrás de representantes políticos que consigam dar apoio e responder por nós".