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23/03/2017
Em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização da Epilepsia, celebrado em 26 de março, o ambulatório de epilepsia do Ambulatório Docente-Assistencial da Bahiana (ADAB) realizou, no dia 23 de março, o I Simpósio Vivendo com Epilepsia. O encontro que aconteceu na Unidade Acadêmica Brotas reuniu, durante todo o dia, pacientes, familiares, estudantes de graduação e profissionais da área de saúde a fim de promover atividades com foco na partilha de informações e no combate ao preconceito contra a doença.
No turno da manhã, foram realizadas palestras educativas visando a promoção da qualidade de vida do paciente abordando temas como a saúde oral, a realização de atividades físicas e exercícios de memorização.
“Tenho muito orgulho de estar aqui neste evento maravilhoso. Esse dia está sendo marcante para mim. Conhecer mais sobre a epilepsia, como lidar com ela, lutar. Eu só agradeço”, declara a paciente de 51 anos, Mailza dos Santos Borges. Ela conta que vem sendo acompanhada no ambulatório de epilepsia desde 2015, quando foi encaminhada por profissionais do Centro de Prevenção e Reabilitação do Portador de Deficiência (Cepred). “Tudo no ambulatório me agrada, fui muito bem acolhida aqui”. Mailza ainda destacou a oportunidade de poder tirar dúvidas e conhecer mais sobre a doença. “Antes eu não entendia bem o que era. As palestras realizadas hoje ajudaram muito a nós pacientes”.
Outro relato inspirador foi o da adolescente Bárbara da Silva Santos. Com 17 anos, ela está na 8ª série do ensino médio e há apenas um ano teve o diagnóstico no ambulatório de epilepsia da Bahiana. “Quando cheguei aqui, foi um atendimento completamente diferente. Ao contrário dos outros médicos que fui, eu gostei muito, principalmente do Dr. Humberto Castro Lima Filho, porque ele conseguiu diagnosticar logo a doença. Até então, eu não tinha o diagnóstico. Os médicos identificavam a convulsão, mas não sabiam determinar a causa do problema”. Ela conta que a qualidade de vida melhorou muito após o início do tratamento.
Bárbara ainda incentiva outras jovens que passam pela mesma situação a não temerem o preconceito. “Conviver com a epilepsia é um pouco complicado porque muitas vezes você é rejeitado e é uma situação que você tem que aprender a conviver. Falo abertamente para aqueles com quem convivo que tenho epilepsia, porque as pessoas têm que saber para poderem lhe ajudar também. Considero que levo uma vida normal. As pessoas não devem ter vergonha de si. A gente não pede para ter a doença, isso é coisa da natureza, como eu posso ter, qualquer outra pessoa pode ter. Então, não se acanhe, não se intimide.”
O neurologista e coordenador do ambulatório e diretor médico do ADAB, Dr. Humberto Castro Lima Filho, destaca que o simpósio teve como principal objetivo combater o preconceito que existe em torno da doença, por meio da promoção da informação. “É superimportante a proposta que fizemos de trazer os pacientes e estudantes de diversos cursos de graduação para saber mais sobre a epilepsia. Então, nesse contexto, nossa finalidade aqui é compartilhar o conhecimento com os diversos olhares possíveis”.
Fórum científico
No turno da tarde, o evento teve um cunho mais científico, sendo voltado para o público acadêmico. Estudantes dos diversos cursos de graduação da Bahiana assistiram às falas do Dr. Humberto Castro Lima Filho que abordou os aspectos da epilepsia no indivíduo adulto; da Dra. Marielza Fernandez Veiga, coordenadora do ambulatório de epilepsia do Hospital das Clínicas que falou sobre a doença na infância; da enfermeira do ambulatório de epilepsia da Bahiana e professora da instituição, Ana Maria Cruz Santos, que fez um relato sobre os cuidados com a saúde da mulher em idade fértil, foco de seu trabalho no ambulatório e da professora de Psicologia e psicóloga do ambulatório Josiane Mota Lopes, que falou sobre o acompanhamento psicológico dos pacientes e familiares dentro do ambulatório.
“Os alunos que ficam no ambulatório de epilepsia estão no internato na atenção secundária que é dentro do contexto ambulatorial. Eles desenvolvem competências para realizar avaliação psicológica e neuropsicológica, processo de escuta e acolhimento dos pacientes e familiares que chegam para o tratamento. Então, eles começam a entender como se dá a dinâmica da atuação de um psicólogo dentro do contexto ambulatorial”, explica Josiane.
Depoimentos
Após as palestras, a ex-aluna do curso de Enfermagem da Bahiana, Naiara de Jesus Matos e a estudante de Psicologia, Maiara Iasmim Pinto Borges relataram suas experiências de estágio no ambulatório.
“Entrei no ambulatório de epilepsia através do programa Cuidar Faz Bem e lá nosso objetivo foi trabalhar com mulheres em idade fértil, uma população de 10 a 49 anos em que se tem uma intervenção medicamentosa com os antiepilépticos e os anticoncepcionais orais. Então, encaminhamos essas mulheres para o serviço de ginecologia para realizar a inserção do DIU que é um dos métodos mais eficazes para prevenir a gestação”, conta Naiara, hoje monitora e pesquisadora voluntária no ambulatório.
“Ter participado do estágio foi uma experiência muito enriquecedora, pois lá trabalhamos de maneira multiprofissional e, então, pude vivenciar como esses pacientes são assistidos de maneira integral. A experiência reafirmou o que a faculdade ensinou: devemos ter esse olhar integral sobre o paciente, não olhar apenas para a doença”, relatou Naiara.
Para Maiara Iasmim Pinto Borges, o momento do estágio pode ser decisivo para o futuro profissional do estudante. “Acho que é um momento enriquecedor, porque, se a gente tem a oportunidade de já ter uma prática, quando sairmos daqui isso ajudará a fazer a nossa escolha profissional”.
Para a estudante, além de colocar o aluno em contato direto com a realidade ambulatorial, o estágio também é um polo de informações. “Eu acho que estagiar no ambulatório de epilepsia é uma oportunidade única, porque geralmente nós conhecemos uma pessoa que tem a doença, mas eu não tinha noção de quantas coisas estão agregadas à pessoa com epilepsia”. Ela conta que antes de ter o contato com o ambulatório não fazia ideia de quanto estigma está associado à doença. “Ao atender os pacientes, podemos ver o sofrimento que eles passam, ver o preconceito que existe e a dificuldade. Ainda há muita falta de informação permeando a epilepsia.”
“O preconceito é causado pela ignorância, pelo desconhecimento, então, a informação é o remédio para isso. Temos a obrigação de informar mais”, afirma Dr. Humberto que também destacou o aspecto interdisciplinar do trabalho desenvolvido no ambulatório. “Nosso ambulatório pode ser considerado ainda jovem, pois estamos desenvolvendo esse trabalho há apenas cinco anos. Mas agora podemos afirmar que ele está se tornando um ambulatório interdisciplinar. Contamos com neurologistas, psicólogos, enfermeiras, um neuropsicólogo que avalia a função cognitiva dos pacientes, além de estudantes de medicina, enfermagem e psicologia”.
De acordo com o coordenador, as consultas também ocorrem de forma interdisciplinar, o que possibilita oferecer uma qualidade de vida melhor a cada paciente. “Os pacientes passam por toda essa equipe o que nos permite ter uma visão e uma abordagem interdisciplinar e isso é uma vantagem muito grande, porque hoje em dia não existe mais a possibilidade de se trabalhar sozinho, o médico não trabalha sozinho, ele trabalha em equipe o que realmente facilita melhorar a qualidade de vida dos pacientes, no caso, os que têm epilepsia.”