Para dar início ao encontro, foi exibido o documentário "Pro Que Der e Vier" (2017), produzido pelo IHAC/ISC/FACOM-UFBA, através do programa de doutorado do professor Ricardo. O média-metragem retratou a história de nove mulheres trans moradoras de Salvador, a partir da narrativa delas. A trama tratou de tópicos, como a descoberta da transexualidade, a revelação social, a vivência na sociedade e na família, os preconceitos sofridos e a autoaceitação.
Após a exibição do filme, o professor Ricardo deu as boas-vindas e apresentou a primeira mesa de debate, composta por Inês Santos, mãe de homossexuais; Paulete Furacão, mulher trans, educadora social, ativista LGBTQI e membro do Fórum Estadual de Políticas para Transexuais; Padre Alfredo, um dos fundadores da creche Conceição Macedo, que presta atendimento a crianças portadoras de HIV, bem como aos seus familiares; Symmy Larrat, mulher trans, coordenadora da Rede de Enfrentamento à Violência contra LGBT da Bahia; e Alana Rocha, mulher trans, jornalista e ativista LGBTQI.
A programação abrangeu temáticas, como "Mudança Corporal e a Saúde da População Trans", "Processo Transexualizador" e "Desafios na Academia", além da mesa-redonda “Diversidade de gênero e as suas representações”. Para Marlene Barreto, que ministra o componente curricular de Saúde Coletiva 3, foi necessário pensar numa temática ligada à saúde coletiva, uma vez que o evento se correlacionou à grade desse componente cujos professores Antônio Pitta, Patrícia Siguri, Mônica Moura e Ricardo fazem parte.
“Por isso, eu e o professor Ricardo pensamos numa temática que abrangesse mais do que a área de odontologia” observa Marlene. A professora pondera que, como não havia sido realizado um grande evento com esse tema, a reflexão principal, sobretudo, se baseou na formação dos estudantes enquanto capacitadora para o trabalho com a população LGBTQI.
“Assim, para os palestrantes, optamos por pessoas que estavam na militância e que fazem parte da implementação de políticas públicas. Promovemos também discussões sobre os processos de harmonização e redesignação sexual, no âmbito da saúde, com profissionais que atendem essa população”. Dessa forma, houve uma interligação entre a militância, a sociedade civil e a área da saúde para que toda a instituição pudesse ter acesso e debater sobre esse assunto.
Paulete Furacão elogiou a iniciativa: “a Bahiana foi muito feliz ao organizar esse conteúdo e por estar aberta à diversidade, comprometida com a formação de profissionais que trabalharão com uma população vulnerável. Nada melhor do que compreender que tipo de público é esse”, completa. Já Symmy Larrat avalia que “momentos como esse são importantes, pois, geralmente, há uma ausência dessas temáticas nas academias. Quando o profissional chega no atendimento e se depara com esses usuários transicionados, não sabe como lidar”.
Symmy destaca que havendo dificuldade de entender os corpos de pessoas travestis ou transexuais, o encaminhamento mal-elaborado é inevitável. “A conversa com profissionais que daqui a poucos anos atenderão pacientes nessas condições ajuda a mudar a realidade tão cruel de exclusão” conclui.
Luiza Ribeiro, coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas e pedagoga, ressalta que ações como essa traduzem a missão da Bahiana: formar pessoas para cuidar de outras pessoas a partir do respeito, da humanização e do afeto, tendo como base uma ciência bem estudada e bem aplicada. “Não tenho dúvidas de que à medida que os nossos alunos participam de encontros promovidos pelos próprios professores, ou seja, que são incluídos no currículo, a formação é incrementada”.
Luiza acrescenta que a perspectiva muda quando se observa relatos de pessoas que vivenciam uma luta diária, pois há uma sensibilização no desempenho das atividades profissionais. Para a pedagoga, o aluno da Bahiana já é reconhecido nas clínicas e hospitais como um estudante diferenciado porque ele é formado no ambiente de diálogo, de experiências novas e de empatia. “Parabenizo os professores de Odontologia, parabenizo também o curso em si e a todas as pessoas que estiveram presentes”, finaliza.
O estudante de Medicina do 2º semestre, Antônio Neto, evidencia que, principalmente no curso de Medicina, não se tem um preparo especial para lidar com a comunidade LGBTQI, portanto, a iniciativa da Bahiana “abre os olhos dos estudantes para melhorar o tratamento desses pacientes desde a triagem, chegada ao consultório e atendimento ambulatorial até a continuação do encaminhamento, fora do ambulatório”. De acordo com Antônio, é esse cuidado que impacta a vida das pessoas e da comunidade.
As alunas Larissa Santana e Camila Guedes, do 7º semestre de Odontologia, consideraram a proposta bastante interessante por ser um tema relevante e que precisa ser debatido em todas as áreas da saúde. “É uma realidade que não é tão abordada nos cursos e na sala de aula”, enfatiza Larissa, elogiando as palestras e os conteúdos elucidados. Camila expõe que a conscientização é essencial, “é preciso ficar atento ao outro e desmitificar tabus que só atrapalham o atendimento que é de direito. Esse esforço da Bahiana é bastante significativo, já que precisamos incluir todas as pessoas” reflete a estudante.
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