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Bahiana promove sexta edição do Circuito de Poesias

Evento contou com apresentações que emocionaram o público

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Palavras singelas que tocaram o coração e a consciência de todos. Assim foi o VI Circuito de Poesias da Bahiana, que ocorreu nos dias 2 e 9 de abril, nos Campi Brotas e Cabula da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. O evento, organizado pelo Núcleo de Atenção Psicopedagógica (NAPP), contou com a participação de professores, colaboradores e estudantes dos cursos de graduação.

Angélica Mendes, gestora do NAPP, relatou sobre a importância desse encontro. “É um espaço aberto para quem quer declamar suas poesias ou as de outros autores e também expor trabalhos musicais. Esse circuito possui o objetivo de promover espaços de de conhecimento, diversidade e integração com foco na promoção da saúde”.

O evento contou com o varal de poesias de estudantes da Bahiana, um mural com poesias de Conceição Evaristo e a presença de convidados, como o Grupo Sem Limites e Formation Dance, ambos da Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (REPROTAI).

A estudante Thamara Nascimento, do segundo semestre de Enfermagem, uma das que declamou sua poesia e emocionou a plateia, compartilhou como foi a sensação de participar do Circuito de Poesias e divulgar seu trabalho: “Foi extremamente enriquecedor poder chegar e recitar uma poesia que estava machucando tanto o meu coração, diante da situação que tinha corrido. Eu precisava expressar aquilo. Quando eu terminei de recitar a poesia, fui abraçada por coordenadores e supervisores da Bahiana e me senti muito acolhida naquele momento”, relatou. Segundo ela, “é muito difícil impactar as pessoas através da escrita e, ao me conectar com os abraços dessas pessoas, foi muito enriquecedor. Agradeço à professora de Psicologia Arlene, que me deu muita força para eu poder recitar a minha poesia e enfrentar o meu medo de me expressar em público”.

Confira abaixo a poesia recitada por Thamara Nascimento:

A ferida que me despe

A ferida que me despe
é a mesma que te aquece
nesses versos que de tanto laço,
dá nó,
na garganta,
Desmancha a mancha
ou retinta a minha dor,
minha cor...

80 tiros
80 balas atingindo um carro dito "suspeito"
80 tiros infligindo corpos de negros
80 palavras ditas em que numa só resume essa história: "PRECONCEITO"

Padeço
Enrijeço
Não queria fazer dessa dor um martírio
Desconheço,
Encrespeço,
Sobre quantos corpos pretos se faz um re(existo)?

Não aceito!
Ser tachada como tiro ao alvo por ter tom de pele preto
Rejeito
toda e qualquer justificativa de dizer que assaltantes possuem caricatura do negro

Mais um tiro no meu peito, de um amigo que confunde as piadas do colega sobre nossa cor como respeito
Eu me deito e me levanto, como só um corpo em quebrantos

Nos dizem que somos a ameaça, mas quem de fato está com as armas?
Carrega a máscara na cara e a raiva na alma (se é que tem né jão!)
A dor de ser preto você nunca vai entender
Nem bem nasce e uma arma já está engatilhada pronta para a morte trazer

Morro antes de nascer, porque muitos dos meus se foram só por pertencer a uma melanina enfatizada
Muitos dos meus se foram por metralhadoras

Metralham minhas dores todos os dias: por Marielle, Cláudia, Amarildo e agora Evaldo
Dores negras importam, não adianta permanecer com seus olhos vendados

Grito ainda para encontrar a saída, no meio de tantas balas perdidas, que sempre encontram a pele de um preto,
de um crespo,
de um nego do guetto, só não encontram de fato o seu preconceito grotesco

Minha dor está em cada corpo estirado,
Em cada grito silenciado,
Em cada poema inacabado, porque o toque de recolher é, na verdade, o mundo querendo demolir um negro que só quer crescer



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