O professor Ricardo Araújo conta como a discussão sobre drogas no meio acadêmico ainda é um tabu e a relevância de falar sobre o assunto com futuros profissionais de saúde: “Trouxemos a proposta de abordar esse tema de uma forma científica, porque, no dia a dia, ouvimos muitas informações equivocadas sobre as drogas. Queremos formas profissionais que entendam quais são os problemas relacionados aos psicoativos e o contexto em que o usuário está inserido, com o objetivo de não simplesmente julgar essas pessoas, mas compreender essa questão social com um olhar sinérgico”.
A coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas da Bahiana, Luiza Ribeiro, expressa sua opinião acerca da importância de tratar desse tema: “Nós, que trabalhamos com o cuidado ao outro, temos que olhar as pessoas e entender as suas histórias ao invés de julgar a situação em que elas se encontram com o consumo de psicoativos. É uma lição de vida compreender as questões das drogas, e todos os nossos estudantes, futuros psicólogos, dentistas, fisioterapeutas e médicos, irão trabalhar com pacientes que sofrem com essa situação e precisam saber como lidar com isso de uma forma humanística”.
O simpósio contou com uma programação diversificada, na qual as seguintes perspectivas foram expostas: a ética clínica no cuidado aos usuários de álcool e outras drogas; o consumo de drogas e a formação acadêmica; o manejo das intervenções médicas e psicológicas no consumo de psicoativos; e a legalização das drogas, sendo este o tema mediado pelo juiz de Direito da Comarca de Conceição do Coité, Dr. Gerivaldo Alves Neiva.
Um dos principais palestrantes foi o Dr. Antônio Nery, fundador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD/UFBA), que explicou como é importante entender acerca das drogas de forma ética e social. “A universidade é um lugar privilegiado para a formação, e esse fenômeno do consumo de drogas tem sido muito malvisto. Precisamos, portanto, mostrar aos estudantes que o problema não está nas drogas, mas sim nas pessoas. São as pessoas que vivem e têm dificuldade, adoecem e acabam enxergando os psicoativos como uma alternativa de vida. Esses encontros acadêmicos são essenciais para tratarmos dos problemas sociais.”
Diversos estudantes e profissionais participaram do evento. A técnica de enfermagem Dulce Matos expõe o que achou do simpósio: “Gostei bastante, foi muito enriquecedor. O tema discutido é algo amplo e diferenciado. Para nós, profissionais da saúde, é muito importante entender a vida do paciente que utiliza substâncias psicoativas”.
A estudante do 7º semestre de Odontologia Isabela Caetano foi uma das organizadoras do simpósio e compartilhou sobre por que estudar as drogas agrega formação acadêmica e profissional. “Devido a nossa demanda clínica, começamos a ver que muitos pacientes tinham dependência de drogas e que compreender o que isso significa para a vida da pessoa que sofre desse problema faz diferença no tratamento de saúde. Quando falamos em legalização, precisamos saber, a partir da teoria científica, do ponto de vista da saúde e do jurídico também, como o uso de drogas influencia na vida do cidadão”.