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04/12/2013
Após perder o pai em um acidente de trânsito e presenciar a mãe sucumbir a um nível de hipertensão que lhe causou insuficiência renal, Nadjane Siqueira Vieira de Oliveira não teve dúvidas: seu futuro estava na área da saúde. Nascida em Juazeiro (BA), a estudante do curso de Medicina da Bahiana é presidente da Liga Acadêmica de Nefrologia. Ela, que veio morar em Salvador a fim de cursar o ensino médio no colégio Salesiano, tem como hobby a leitura, além de valorizar o tempo que tem com a família. Hoje com 25 anos, a estudante está na Romênia, onde realiza um intercâmbio cultural relacionado à saúde e educação infantil. Confira a entrevista.
Nadjane Siqueira Vieira
- Por que resolveu fazer Medicina?
Perdi meu pai num acidente de trânsito. Após essa tragédia, minha mãe desenvolveu hipertensão e subitamente perdeu as funções dos dois rins. Morei longe dela por dois anos, pois ela teve que fazer hemodiálise em Salvador. Após dois anos de hemodiálise, meu tio doou seu rim para minha mãe. Essa, sem dúvida, foi e é minha maior motivação para ser médica. Enxergo em todos os pacientes a minha mãe e sei como é sentir-se vulnerável. Bem, ao entrar na Bahiana, esperei o tempo da seleção para Liga Acadêmica de Nefrologia, da qual faço parte e hoje sou presidente. O mais incrível disso tudo é que meus orientadores são Dr. Edson Paschoalin, o cirurgião que fez o transplante da minha mãe, e Dr. Raphael Paschoalin, seu filho. Tenho certeza de que isso não foi um mero acaso.
- Como se deu esse intercâmbio para a Romênia?
Sempre participei de projetos sociais e estava procurando algo diferente, queria me desafiar. Busquei um programa de voluntariado internacional relacionado à educação infantil. Apliquei-me e concorri à vaga e fui selecionada. O programa de voluntariado global existe em todo o mundo, inclusive em Salvador e foi através disso que me engajei no projeto, na tentativa de ser escolhida.
- Como foi a escolha do tema (educação infantil)?
Minha intenção inicial era entender como as crianças de outros países estão sendo educadas. Peço perdão pelo clichê, mas realmente acredito que elas são "o futuro". Após passar pela disciplina Saúde da Família, na qual conheci crianças carentes de comida, de casa, de amor, percebi que, de fato, devemos cuidar dos "pequenos" se quisermos dias melhores. O tema desse intercâmbio é International Kindergarten-programa que acontece na Europa, no qual a educação infantil é bastante valorizada e constitui destino de investimento. Nele, pude constatar o quanto nós, brasileiros, temos a aprender e o quanto nossa educação pública precisa melhorar.
- Quais as atividades que você vem desenvolvendo aí?
Meu estágio consiste em troca cultural, eu ensino minha cultura e aprendo a cultura romena. São utilizados jogos, conversas, maneiras educativas e interativas. Aqui eles preconizam a diminuição da intolerância cultural e iniciam esse programa já com as crianças. Tenho contato com a universidade de Craiova e estão agendadas visitas à faculdade de medicina. Estou aprendendo sobre o sistema de saúde romeno e, principalmente, sobre as campanhas de saúde pública. E desde já, posso garantir, estamos a mil anos-luz quando o assunto é saúde pública. Afirmo isso, não por ser entusiasta do Sistema Único de Saúde (SUS), mas por ter certeza de que vivemos hoje um processo de melhora significativa na saúde pública. Há muitos pontos a serem vistos, com certeza, porém nossos ganhos devem ser enfatizados.
- Quais são os seus ganhos com essa experiência?
Meus maiores ganhos são pessoais. Busco ser um ser humano melhor, mais tolerante, compreensiva, pois sei que assim, serei um profissional humano, além dos ganhos acadêmicos quanto à valorização da minha faculdade, a Bahiana, dos meus professores, da minha profissão, pois aqui na Romênia o médico está subvalorizado.
- A Bahiana teve algum papel nesse processo? Qual?
Totalmente. Desde o início da minha graduação, tentei absorver os conceitos humanitários que eram passados. Desde Psicologia Médica até Saúde da Família, foi crescendo em mim a vontade de "ser gente", "cuidar de gente". O teor humanitário que a Bahiana imprime ao curso de medicina é fundamental para a formação do médico.
- Poderia contar algum momento que mais tenha lhe marcado no intercâmbio?
Ainda estou vivendo, por isso ainda é muito difícil responder. Tudo é interessante e marcante. Mas, de antemão, posso afirmar que o mais marcante é a importância que é dada à educação infantil, inclusive com cursos universitários para ensinar aos "pequenos".
- Como está sendo a troca de experiências culturais com os romenos?
Está sendo ótima, desafiadora. Nós, brasileiros, temos uma cultura peculiar e bastante diferente das demais, por isso, às vezes é difícil. Eles são muito receptivos e tentam me deixar à vontade. Até agora, não me arrependi da minha escolha e recomendo a todos esse tipo de experiência.
- Você falou que tem experiência com voluntariado. O que já fez nesse sentido?
Desde pequena via minha mãe em trabalhos voluntários. Iniciei efetivamente na Mansão do Caminho, em 2003, em atividade do Centro Comunitário Lygia Banhos, atendendo a comunidade de Pau da Lima e São Marcos. Minha atividade sempre foi voltada para as crianças.
- Quanto tempo irá durar o intercâmbio? Como outros estudantes podem se candidatar a essa experiência?
Meu estágio começou no dia 8 de novembro passado e acaba no próximo dia 22 de dezembro. Caso alguém tenha interesse em ser um cidadão global, deve entrar em contato com a AIESEC, uma empresa fundada por jovens ucranianos após a Segunda Guerra Mundial, no intuito de incentivar o intercâmbio cultural, pois entenderem que o motivo dos conflitos vigentes era a intolerância cultural e percebemos isso até hoje, infelizmente.
Nadjane Siqueira Vieira de Oliveira é acadêmica do 4º semestre do curso de Medicina